domingo, 5 de agosto de 2012

A poesia na escola

Brincando com as palavras

            As palavras são consideradas pelos poetas a matéria essencial de sua arte. Há poetas que brincam com as palavras de uma maneira única. Lidam com toda uma ludicidade verbal, sonora, musical e engraçada. Ao juntar as palavras nos dão à impressão, que as mesmas se movem nas páginas como se fosse uma cantiga, e ao mesmo tempo brincam com os significados diferentes que uma mesma palavra tem.
            Sidônio Muralho, em TV da bicharada, faz um jogo lúdico e semântico no poema:

Dia de festa:

E tudo que lá
havia,
e tudo o que havia
lá,

que se chamasse alegria
que se chamasse poesia
só sabia
o sabiá.

Ouçam como ele assobia
Assobia
o sábia.

            Nos versos finais desse poema, o poeta faz um jogo lúdico com as palavras sabia e sabiá, além disso, há uma leveza de imagens.
            Cecília Meireles, considerada a primeira poetisa brasileira que realmente se dedicou à poesia infantil tem uma infinidade de poesias, onde explora o jogo de palavras, as rimas, o ritmo, as imagens e o aspecto sensorial. Eis algumas poesias:
Trocadilho entre a letra erre e o verbo errar.
“O menino dos ff e rr/ é o Orfeu Orfilo Ferreira: / ai com tantos rr, não erres!”

            As rimas, as imagens, o ritmo e, sobretudo as emoções (Maria deseja aos outros o melhor sentimento: a amizade) são também explorados pela poetisa, neste poema:

As meninas

Arabela
abria a janela.
Carolina
erguia a cortina.

E Maria
olhava e sorria:
“Bom dia!”

Arabela
foi sempre a mais bela.
Carolina,
a mais sábia menina.

E Maria
apenas sorria:
“Bom dia!”

Pensaremos em cada menina
que vivia naquela janela;
uma que se chamava Arabela,
outra que se chamou Carolina.

Mas a nossa profunda saudade
é Maria, Maria, Maria,
que dizia com voz de amizade:
“Bom dia!”

            Também Elias José, em Um pouco de tudo, joga com diferentes significados da palavra grilo:
Grilo Grilado

O grilo
coitado
anda grilado
e eu sei
o que há.

Salta pra aqui,
salta pra ali.
Cri-cri pra cá,
cri-cri pra lá.
O grilo
coitado
anda grilado
e não quer contar.

No fundo
não ilude,
é só reparar
em sua atitude
pra se desconfiar.
O grilo
coitado
anda grilado

e quer um analista
e quer um doutor.

Seu grilo,
eu sei:
o seu grilo
é um grilo
de amor.

            Neste poema, o autor traz para os dias atuais a problemática vivida pelo personagem grilo e acrescenta um analista, juntando assim, o bucólico com o urbano, fala de amor como fator responsável pela “grilação”. Também repete o estribilho, produzindo assim um poema gostoso de ouvir, pois se aproxima das cantigas de roda.
            Outro bom exemplo desse jogo poético é o poema de Sérgio Caparelli em “Boi da cara preta”, no poema “O barbeiro e o babeiro”, o poeta brinca com a letra b, criando situações inesperadas, situações de bravice, juntando um bebê babão com barbeiro, ao mesmo tempo em que conta um episódio engraçado desafia à leitura em voz alta.

O barbeiro e o babeiro

O barbeiro comprou um babeiro
para a baba de seu filho:
- baba gora, bebê babão,
de babeiro, babar é bom.

Depois foi fazer a barba
do único pai de seu filho:
Barbeiro a barba e não babo,
sou barbeiro sem babeiro.


Mas ao limpar o babeiro
sua barba se encheu de baba
e o barbeiro embraveceu
com babeiro, barba e baba.

           

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